quinta-feira, novembro 10, 2005

De pequenino se torce o pepino

a opinião de Luís Leal*
Fotos: Rui Carvalho e Site do Varzim
-
Gostei, francamente, de ver a petizada duma escola de Aver-o-Mar e do Jardim-Escola Santo António, da Beneficente, no domingo a assistir ao jogo Varzim x Chaves. Gostei de ouvir a voz do António Teixeira anunciar através dos alti-falantes que essa petizada estava colocada no topo sul do Estádio do Varzim, o que, a avaliar pelo anúncio público, se tornava numa notícia agradável a dar aos adultos presentes no jogo.
Gostei, francamente, de ver e ouvir essa “canalhada”, com os seus cânticos próprios, apoiarem a equipa do Varzim, quanta dela ostentando as cores alvi-negras nas camisolas que envergavam ou nos cachecóis em que se envolviam.
Gostei, sem sombra de dúvida, que a Direcção do Varzim tivesse a feliz ideia de abrir as portas do Estádio a algumas dezenas de crianças, ali levadas pelos seus professores do ensino básico ou educadoras de infância.


Foi só pena esses “homens e mulheres de amanhã” não terem tido a oportunidade de festejar os golos do seu clube, para se sentirem mais satisfeitos e também retribuídos da sua longa deslocação, dentro da cidade, ao Estádio do Varzim.
E, naquela altura, senti-me transportado para os meus tempos de criança. Os tempos eram outros, bem duros, repletos de carências de toda a ordem, e até na forma da “criançada” poder entrar num campo de futebol.
Não me posso dar por muito triste, porque tinha o privilégio de ser o “mascote oficial” do Varzim, com seis/sete anos, já que meu irmão Madeirense era titular da equipa varzinista e, nesse aspecto, o amor familiar tinha muito peso. O pior foi quando os anos cresceram e o corpo também… era ver os rapazes do meu tempo implorar uma entrada nos campos para ver o Varzim – que é do Varzim que se trata neste caso. Recorriam às mais variadas artimanhas: ou tentando ludibriar os porteiros, com fugas por entre as pernas de quem transpunha os portões de acesso mostrando o bilhete de ingresso ou o cartão de sócio, ou então aguardando pela entrada dos jogadores para “levarem a mala” que continha o equipamento que eles iam utilizar no jogo... e era lavado nas suas próprias casas.

Um parêntesis: tive conhecimento há dias que os actuais jogadores do sector de formação do Varzim são os responsáveis pelo equipamento de treinos, desde camisolas e calções às meias e fatos de treino, levando para suas casas para serem levados e tratados, como forma do clube poupar uma “croas” e, ao mesmo tempo, fazer com que os progenitores tenham uma forma de colaborar com quem tenta dar “uma mente sã em corpo são” aos seus “rebentos”. Uma iniciativa que merece aplausos.
Quantas vezes, naqueles longínquos tempos do Varzim nos Campeonatos Distritais, se viam “bichas” de crianças à porta dos campos de jogos, à espera de uma ordem dos porteiros para avançarem, ou então, a ficarem “de castigo” fora do portão, se não obedeciam às ordens de quem ordenava as entradas. Por vezes com os “castigados” a “banharem-se em lágrimas”, só porque lhes era sentenciada a pena de não poderem ver os jogos.

Miúdos certamente não vão esquecer esta experiência tão cedo

Parece que ainda estou a ver esses espectáculos que envolviam as crianças e que, tanto motivavam gritos de satisfação às que ultrapassavam as ombreiras dos portões, como envolviam constrangimento a quem esperava pela sua vez, ou, pior ainda, viam a entrada vedada – por norma momentaneamente, porque mais tarde ou mais cedo essa entrada era franqueada.
Tudo isso passou pela minha retina, ao ouvir o anúncio do António Teixeira e a ver aquela petizada toda satisfeita no topo sul do Estádio do Varzim, numa tarde de clima agradável de domingo passado, no jogo Varzim x Chaves. Aquela gente de palmo e meio, certamente não esquece tão cedo ter tido lugar de privilégio para ver um jogo de futebol em que participava o Varzim da sua terra. Faltou, é certo, a vitória tão desejada e tão necessária. Mas o que não faltou foi a algaraviada tão peculiar da pequenada, num dia de festa para ela. Porque não é frequente uma Escola levar os seus alunos a ver o futebol.

Que apareçam mais escolas, da cidade e do concelho, a transformarem o Estádio do Varzim numa festa para as crianças. Como já acontecera em tempos algo distantes, numa altura em que o Varzim estava em perigo de permanecer na I Divisão Nacional. As crianças das escolas da Póvoa foram recrutadas para se aglomeraram na Praça do Almada a caminho do Estádio do Varzim no sentido de apoiarem a equipa varzinista num jogo com a CUF do Barreiro, colaborando da melhor maneira na conquista da tão desejada vitória que cimentou, nessa altura, a permanência no maior escalão do futebol português.

Até porque… “de pequenino se torce o pepino”. E ao recordar-se tudo isso, deve levar-se em consideração a doutrina do velho ditado popular: “se o trabalho do menino é pouco, quem o perde é louco”. E pelos vistos, e muito bem, a mentalidade da actual direcção do Varzim é mesmo não entrar na loucura de não aproveitar o trabalho dos meninos, neste caso convidando-os a assistir aos jogos dos seniores e até aos treinos, ou visitando as instalações do clube – o que para as crianças é um mundo novo nas suas mentes a despontar. Para já não falar da Escolinha dos Tarrotes…

*Jornalista do Comércio da Póvoa e director do jornal «O Varzim» escreve habitualmente neste espaço às quintas-feiras

7 comentários:

Ricardo Campos disse...

Achei a iniciativa muito boa...
E só deve ser repetida, abrindo-es a escolas primárias, preparatórias e porque não secundárias...da cidade e do concelho!
ganha-se moldura humana, colorido, apoio, e quem sabe novos adeptos e incentivos...
Isto porque infelizmente, espaço no estádio...não falta!
Porque não, lançar um concurso para a melhor claque a nível de escolas?
Desafia os miudos, aguça-lhe so apetite, podem trabalhar para isso em tempos mortos de escola e o varzim so ganha...o prémio não precisa de ser nada de mais...se tiver uma vertente para a escola e para os alunos de certeza que também a escola incentiva e apoia os alunos. O premio pode conseguir-se por exemplo por patrocionios...pelo menos o para a escola (electrodomésticos, bolas ou coletes por exemplo).
Se algum responsável do Varzim ler isto...pensem nisso!

Ala-Arriba Varzim!
[Tribunal] - Superior Sócios

puto @ midgang.blogdrive.com

Black & White disse...

Excelente ideia Puto... nós subscrevemos...

Black & White disse...

PFGFR, a sua ideia é louvável. E nós concordamos que as gerações vindouras se devem identificar mais e cada vez mais com o clube. E esta iniciativa de levar os miúdos das escolas à bola é excelente. Já quanto à BAN, era bonito ver muitos mais elementos da claque no estádio e em todos os estádios onde a equipa joga. Como é possível que uma Força Avense ou uma Máfia Vermelha ou uns Tuff Boys invadam o nosso estádio e façam uma festa descomunal... e a nossa BAN seja só meia dúzia de rapazes que vêem o jogo a maior parte do tempo em silêncio? É preciso mais dinâmica! Criatividade! Mais meios: bandeiras, tambores, fumos... tanta coisa... tanta coisa... barulho, alegria nas bancadas, convicção nos cânticos. E esse é e deve ser o papel da BAN. Enquanto não pensarmos assim, não há BAN nem Santo nem nada que contagie os mais jovens e os motive a ir ao estádio.

Um abraço

Black & White disse...

Esperamos então pelo regresso da BAN em força... e que seja rápido.

Um abraço

Anónimo disse...

o paulo tem razão!

é muito complicado. Pessoas como o Teixeira (grande amigo) ou o Picheleiro entre outros fizeram muito pela BAN mas penso que se cansaram. Foi pena, porque sei que eles fizeram muitos sacrifícios e sei que vivem e sentem o Varzim de forma muito intensa, da mesma maneira de acredito que o Paulo sinta. Se calhar com esta direcção eles poderiam ter tido mais oportunidades para fazer crescer a claque já que mostraram que com pouco meios e apoios chegaram a conseguir boas presenças e bons apoios, bandeiras, estandartes, faixas, etc mostrando muito empenho, iniciativa e craitividade.
Acredito que exista mais gente assim na BAN e espero que o Paulo e os amigos não desistam e façam renascer e crescer a BAN, porque na minha opinião, digam o que disserem o Varrzim precisa de vocês (sem excessos obviamente).

Força pessoal!
Não desistam por favor.

Contamos e esperamos por vocês!

Ala-Arriba Varzim!
[Tribunal] - Superior Sócios

Anónimo disse...

eu entendi perfeitamente a palavra "abandono" e o sentido que lhe querias dar. Só quis fazer a quem de facto abandonou a BAN mas não Varzim e já deu muito a ambos.

Esperamos melhores dias para a BAN.

E já agora 10 anos é muita coisa. Força para vocês!

um abraço varzinista para ti PFGFR!

Ala-Arriba Varzim!
[Tribunal] - Superior Sócios

Black & White disse...

Aqui também uma palavra para a direcção que disponibilizou a esta rapaziada um espaço para ser a sede da BAN. Isto é um ponto de partida para que, principalmente os mais novos, se sintam motivados para organizada e ordeiramente se juntem onde quer que o Varzim vá para apoiar a equipa. PFGFR, daqui pode nascer uma coisa grande, digna... à imagem e semelhança daquilo que é o NOSSO VARZIM.

E já agora, em quê que nós PRETO NO BRANCO podemos ajudar para trazer a BAN em força de volta às bancadas?

É ISSO QUE QUEREMOS! E obrigado por tudo o que já deu a este grupo e ao clube.

UM ABRAÇO