Edição fotográfica: PoveiroDeGema
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Preto No Branco – Se é certo que o Varzim não perde há sete jogos, a verdade é que também já não ganha há cinco consecutivos e intercalou a série de empates com a vitória por 2-1 frente ao Aves. Ou seja, o Varzim não perde mas também não ganha. Qual é o problema desta equipa?
Horácio Gonçalves – Temos uma sequência de empates mas em todos eles, nós estamos à espera do último minuto para ver se o Varzim marca o golo da vitória e não a rezar a todos os santos para o jogo acabar mais cedo para que o Varzim não perca. Isso quer dizer que não estou muito preocupado com o futuro, porque sei que estou mais perto das vitórias do que das derrotas.
E de todos estes jogos, tenho consciência que poderíamos tê-lo ganho todos… ou quase todos. A razão é simples: em todos eles tivemos oportunidade para isso… em todos eles, o adversário nada fez para ser superior ao Varzim… nós conseguimos sempre superá-lo. Falhámos única e exclusivamente numa coisa que já foi por nós sobejamente debatida no seio da equipa técnica… que é o último remate à baliza. Aí é que nós não temos tido a sorte para conseguir os três pontos. Mas penso que esse será um problema temporário. A nossa estrutura defensiva está a funcionar, o meio campo distribui bem e controla bem os jogos e o nosso ataque faz o que lhe compete: cria as oportunidades… simplesmente não marca e acreditem que é azar. Dos últimos 11 metros para a frente, não temos tido a sorte que precisávamos.

Por isso saímos dos jogos um pouco frustrados porque sabemos que merecíamos sempre vencê-los.
Estas coisas são como o auto-golo… não se treinam.
O que nós treinamos muito são os remates à baliza, mas se chegamos ao jogo e as coisas não saem, há muito pouco que possamos fazer.
Reparem que temos no nosso plantel um dos pontas de lança mais produtivos das duas últimas edições da Liga de Honra… o Rui Miguel… que marcou cerca de 15 golos em cada época. De resto, temos o Costé que é também um jogador que remata muito, que foi sempre o melhor marcador das equipas por onde passou. E no caso do Varzim, antes do castigo imposto pela Liga era mesmo o melhor marcador… e depois do regresso à competição já deu provas.
Agora, tanto um como outro ainda não conseguiram superar alguma falta de felicidade que os tem acompanhado, mas é como digo… isto é passageiro e a qualidade deles vai aparecer e aí a equipa vai começar a marcar golos.
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PB – Mas as coisas correm melhor nos treinos do que nos jogos? A equipa falha menos no trabalho semanal do que na hora da verdade?
HG – Não as coisas correm da mesma forma…
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PB – Ou seja, a equipa falha tanto nos treinos como nos jogos…
HG – Não é bem assim. Como sabem, há situações específicas de treino de finalização, em que há muitos golos… e eles acontecem com naturalidade porque são situações em que o avançado aparece cara a cara com o guarda-redes. Mas isso são situações que nós idealizamos. Nos jogos isso não tem acontecido.
Reparem que este ano, em termos de falhanços por manifesta infelicidade, nós batemos recordes: eu não me lembro na história do Varzim de termos uma situação em que em dois jogos consecutivos mandamos ao todo sete bolas aos postes. Fomos nós que enviamos as bolas aos postes… não foram os adversários. Para quem não se recorda, foram os encontros com o Canedo para a Taça de Portugal e logo no fim de semana seguinte em casa com o Gondomar… este para o campeonato. Ora, esta é uma situação que não é lá muito normal.

Mas estou convencido que, de uma forma ou de outra, os golos vão começar a surgir… nem que comece a bater nos postes e a entrar… nem que sejam os adversários a marcar auto-golos.
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PB – Mas perante este cenário de infelicidade na concretização, não nota que a equipa está ou pode vir a sentir aquela pressão de se ver obrigada a não errar?
HG – Essa situação pode surgir… mas se neste momento os jogadores sentissem essa pressão eles nem sequer conseguiriam criar as situações de golo. Aí sim, eu estaria preocupado, porque aí seria o próprio jogador a recusar-se a criar a oportunidade.
Mas não estou preocupado com isso, porque eles conseguem criar as oportunidades, eles acreditam e não é apenas um jogador a criar situações passíveis de golo. Este esforço é repartido por vários jogadores.
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PB – De qualquer maneira, com este discurso, o Horácio não assume o discurso da crise de resultados…
HG – Não. De forma alguma. Nós podemos ter duas visões disto: de dentro do Varzim podemos ceder à tentação de pensar que não temos capacidade para ganhar a ninguém. Mas nunca podemos deixar-nos tentar por esse pensamento. E principalmente, é preciso demonstrar exactamente o contrário aos nossos adversários. Nós temos que lhes deixar aquela ideia de que a nós ninguém consegue ganhar… e esse pensamento deve predominar sempre na preparação deles e na nossa própria preparação.
E se repararem, o nosso trajecto tem sido feito sempre em ascensão. Somos uma equipa em construção e mesmo assim conseguimos apresentar uma qualidade de jogo superior à dos adversários. Por exemplo, no domingo passado jogámos contra uma equipa na qual só dois jogadores é que não estavam lá no ano passado. Havia uma grande base… e lá está. Quem é que jogou melhor? Fomos nós.
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PB – Mas quando diz que a equipa está em ascendente, só se for mesmo em qualidade de jogo, porque em termos de classificação, estamos em fase descendente… começamos bem mas agora estamos em 11.º lugar, a dois da ‘linha de água’.
HG – Nós não temos vindo a descer assim tanto: o Varzim tem andado sempre ali naquelas posições…
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PB – Mas são posições muito pouco satisfatórias… e tendo em conta que este ano descem seis, podemos considerar que o Varzim está indiscutivelmente na zona perigosa.
HG – Mas se em todos os jogos que empatámos, nós disséssemos que tínhamos ganho um ponto em vez de perder dois, aí haveria razão para as pessoas estarem preocupadas.
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PB – Mas os adeptos nas bancadas criticam… e quando ouvem as suas declarações após os jogos, chegam a acusá-lo de ser nitidamente um treinador que joga para o ‘pontinho’.
HG – Mas não. Reparem que eu sou o líder de 23 homens com tudo o que isso implica… e não podem estar as pessoas à espera que eu ‘bata’ nos meus jogadores quando eles não o merecem. O problema é que à volta deste grupo, gravita um certo número de pessoas que só sabem e só gostam de falar mal. Ao contrário dessa atitude, eu tenho é que enaltecer a carga positiva do trabalho deles: eu não posso dizer nada do meu guarda-redes, não tenho queixas nem da defesa, nem do meio-campo nem do ataque… nem tenho razões para isso.
E se eu fosse um treinador que joga para o ‘pontinho’, acham que a nossa equipa tinha dado tantos pontos a guarda-redes adversários nas tabelas dos jornais desportivos? Isto é um facto. Se jogássemos para o ‘pontinho’ não íamos para cima dos adversários até ao último minuto, não acreditávamos até ao fim, não saíamos frustrados do campo por não termos ganho. Agora, o que eu acredito e defendo é que mais vale um ponto na mão do que três pontos perdidos. Isso aconteceu-nos em um ou dois jogos, porque de resto a superioridade foi sempre do Varzim.
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PB – E quanto às suas opções, nomeadamente no jogo frente ao Olhanense ouviram-se fortes críticas à forma como o Horácio tentou inverter o nulo. Mas para que percebamos objectivamente qual foi o raciocínio: o Varzim esteve cerca de 20 minutos a jogar contra 10, precisava de marcar golos... e a menos de 10 minutos do fim, retira um dos pontas de lança... o Costé que na nossa opinião era o que estava a produzir mais (tinha marcado um golo que foi anulado, mas foi sempre o mais rematador)... para meter em jogo o Anderson... um extremo. Resultado: deixou em campo um ponta de lança que não tem estado bem... o Rui Miguel... e que naquele jogo não provou o contrário disso.
HG – O problema é que o jogo estava a caminhar para o fim e estávamos a ver o Olhanense a reduzir-se apenas a 15 metros de campo. Ou seja, estávamos a jogar a meio do meio campo defensivo do Olhanense até à área e eles fechavam muito bem os caminhos.
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HG – Mas é aquele jogador que improvisa... por isso é que jogou dois ou três minutos. O problema do ritmo competitivo coloca-se quando falamos de um jogador que tem de jogar 90 minutos e depois entra em sub-rendimento a partir dos 60/70 minutos.
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HG – Reparem que a equipa tinha uma estrutura e essa estrutura estava a funcionar eficazmente... porque reduziu o Olhanense à sua defesa.
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PB – Sente que foi confrontado pela primeira vez com a contestação dos adeptos... nomeadamente os do Topo Sul que assobiaram o Horácio no fim do jogo à passagem para as cabines?
HG – Não. Sabem que nestas situações aparece sempre um indivíduo ou outro mais fervoroso, mas nada de contestação.
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PB – Não tem receio dos 'lenços brancos'.
HG – Não... isso não vai acontecer porque há todo um percurso difícil que temos de fazer, e para tal a equipa precisa é de estabilidade. Isto não vai lá com 'trocas e baldrocas'... o futuro do Varzim não pode passar por aí. Até porque, honestamente, qualquer adepto do Varzim se apercebe que a equipa joga bem. Além disso, eu formei este grupo (com as limitações financeiras que são conhecidas) e acho que toda a gente reconhece que oferece muito mais qualidade do que aquilo que tínhamos por exemplo no ano passado. Julgo que isso é notório... e em termos de qualidade de jogo, eu julgo que (para aquilo que é a realidade da Liga de Honra) temos uma equipa que eu diria que é eficaz. Agora, falta-nos a tal pontinha de sorte para materializarmos esse factor.
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Horácio assume falta de verbas e reafirma que o Varzim não vai ao 'mercado de Inverno'
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PB – Pegando na deixa da construção do grupo de trabalho, convém lembrar que este grupo foi construído com dois jogadores que, mais semana menos semana, vão ter de se ausentar do grupo: o Mendonça e o Figueiredo vão para o CAN 2006 e o Varzim perde duas peças fundamentais. Como é que isto se vai colmatar? O Varzim vai ao mercado de Inverno? Tem condições para isso?
HG – Não. Em absoluto. Não temos capacidade financeira para isso...
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PB – Mas, objectivamente, o Varzim precisa ou precisaria de ir buscar alguém ao mercado?
HG – Precisaria sempre, mas neste momento acho que isso não é necessário. Quando nós fizemos o plantel, o rigor financeiro foi de tal forma que tivemos que construir um colectivo que fosse capaz de aguentar uma época inteira até Junho... sabendo já nessa altura que não compraríamos nem venderíamos qualquer atleta. Porque o Varzim terá futuro se for gerido com inteligência. Obviamente eu queria os melhores jogadores, mas eu... treinador do Varzim... tenho de ter a consciência que o clube está prestes a fazer 90 anos e tem de fazer mais 90. Não pode, por culpa de um treinador qualquer... ou de um maluco qualquer... entrar em loucuras. Confesso que seria mais fácil para mim ter jogadores de alto gabarito, mais quatro ou cinco avançados na minha equipa... e que marcassem muitos golos. Só que a diferença entre um treinador qualquer e o Horácio é que o Horácio já gosta muito do Varzim... e temos que saber gerir as coisas com inteligência e rigor para que amanhã o Varzim continue a disputar o nosso campeonato. E, voltando à lógica dos lenços brancos, se um dia (por eu pensar assim) os sócios acharem que eu não tenho razão e me mostrarem o lenço branco, eu sairei do Varzim de consciência tranquila e com a certeza de que no meu consulado não foram cometidas loucuras. Eu não vou ajudar a destruir o Varzim... há outras pessoas que o fizeram. O Horácio não o vai fazer!
6 comentários:
Eu sempre vi o Horácio como um treinador da casa, que conhece bem o Varzim e a Póvoa, logo fui dos que apoiaram o seu retorno à "nossa" casa.
Embora tenha um discurso muito cauteloso, eu acho que ele esteve muito bem quando disse que não quer destruir o Varzim, quando outros o fizeram. Eu partilho da opinião dele e penso que os varzinistas devem dar tempo ao tempo, para que o Varzim se volte a erguer novamente! ;)
Parabéns pela entrevista, muito bem conseguida! :)
Poça...Vocês do Preto no Branco têm muita facilidade em chegar aos elementos da equipa. Autênticos jornalistas...autêntico jornalismo varzinista online :)
Grande dedicação
É a nossa missão ma ;) Informar varzinistas e dar-lhes voz. Este espaço é aberto a todos sem excepção... varzinistas ou não. Venha quem vier por bem.
Afinal, em quê que ficamos, o Horácio diz que o Varzim tem a melhor equipa da Liga de Honra, e depois vem dizer, que o objectivo é a manutenção!?!?
Há algo que não bate certo, assuma as responsabilidades dos maus resultados, porque nós sabemos que o VARZIM tem a melhor equipa, só que ainda não funciona como equipa.
Porque será?
CONVERSA PARA BOI DORMIR!...
É assim que o brasileiro chama a este tipo de discurso adoptado pelo Sr. Horácio Gonçalves.
O Varzim está na triste classificação em que está, muito por culpa do seu treinador que durante muitos jogos se comporta como uma barata tonta quando é preciso mexer na equipa. Mas esteja descansado sr. Horácio porque em termos de peso na consciencia não está só, muitos mais gente tem o rabo preso!...
Tenha coragem e peça a demissão!
Sobre esta pomposa entrevista dada pelo senhor Horácio - qual vedeta da 1ª. Companhia!... - gostaria de dizer o seguinte: lembram-se daquele ministro iraquiano que se servia dos microfones que lhe punham à frente para mentir com a boca toda dizendo que os americanos estavam muito longe de Bagdad e que os iraquianos os comeriam vivos se tentassem entrar na capital ??? Lembram-se ??? E dizia isto com a maior das latas, quando ele sabia perfeitamente que os americanos estavam às portas da capital iraquiana!... Lembram-se ???
O técnico do Varzim continua a ignorar a péssima classificação e a garantir, pelos olhos que a terra lhe há-de comer, que o Varzim é a melhor equipa da Liga de Honra!!! Desportiva e financeiramente este técnico está a ajudar a cavar uma cova ainda maior do que aquela que já existe!...
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