Um conto de Natal... recorda 90 anos de Varzim

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... motivos técnicos impediram-nos de publicar este texto na noite de 24 para 25... em todo o caso, aqui vai.
Não resistimos a publicar este momento de inspiração do nosso presidente...
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“Santa noite a todos!”
Vinda do lado da porta, a saudação, em tom profundo, concitou a atenção da dúzia e meia de homens na taberna. Todos os olhares se fixaram no vulto assomado à ombreira da entrada. Um vulto surpreendente pela imponência da estatura.
“Trago-vos a Boa Nova” – disse o recém-chegado, enquanto se dirigia, em passo solene, para o balcão.
Corria o Inverno, estava frio, fora e dentro do estabelecimento na penumbra, e o bafo suscitado pela fala era como uma aura mágica, pairando, breve, sobre o silêncio expectante.
“Boa nova? Isso é o nome do barco do Patrão Januário!”
O dito, com uma ironia que não escondia um nervosismo óbvio, sai de um recanto onde um grupo abancava jogando à sueca. A atenção dos presentes concentra-se, em crescendo de curiosidade, no recém-chegado, que pede um copo de vinho. Enorme, barba longa, trajando uma espécie de manto que o cobria até aos pés, o homem era um absoluto desconhecido para todos os presentes. Ignorando a interpelação jocosa do jogador de sueca, a Aparição voltou a falar:
“Venho anunciar-vos o nascimento.”
“O nascimento? E quem é que nasceu? Se vocemecê nos vem com a história do Menino Jesus, chega atrasado mais de mil anos!” – A interpelação, que desencadeia gargalhadas, é de um rapazola de camisolão de gola alta e boné enterrado até às orelhas.
“Vá, quem é que nasceu?” – retoma outro dos circunstantes.
Pausadamente, o homem da barba grande sorve um golo do tinto que o tasqueiro servira até à borda do copo.
“Então, homem de Deus, quem é que nasceu?” – intima outro, impaciente.
“Não foi quem. Foi o quê.”- E na resposta do desconhecido, a ênfase deu corpo e substância ao “quê”. –“O Varzim. Nasceu o Varzim. Eis a boa nova que vos trago.”
“Varzim?” – espanta-se o rapazola de camisolão. – “O clube da bola? Já havia um…”
“Pois já, mas este, o que acaba de nascer, é o Desejado, é o Varzim Football Club, que será de todos os poveiros e de todas as poveiras. E que, posso assegurar-vos, longa e gloriosa vida terá. Por motivos bem meus, sinto-me feliz e ser-me-ia grato partilhar com todos vocemecês uma rodada. Por minha conta, se não vos ofendo.”
“Obrigado, em nome de todo o pessoal, homem de Deus. Mas quem diabo é vocemecê, qual é a sua graça, donde vem e o que é que faz?” – inquire um que estivera calado até então.
“Venho de longe, no espaço e no tempo, mas sempre estive, estou e estarei entre vós. Chamo-me Pedro e sou pescador, como cada um de vós.”


Desenrolou-se esta tão curiosa cena – história da carochinha, lenda, devaneio poético, chamem-lhe o que quiserem – na, ao tempo, vila da Póvoa de Varzim, e era 25 de Dezembro de 1915, Dia de Natal. Sabe-se que o portador da Boa Nova partiu de repente, tal como chegara, deixando os homens da taberna em discussão viva. Pedro, assim dissera o desconhecido que se chamava. E que era pescador. Entre convicções e dúvidas, chegariam a consenso aqueles homens rudes mas de Fé: só podia ser “Ele”, Pedro, o padroeiro da Póvoa, o pescador e santo, anualmente festejado a 29 de Junho. Sim, terá sido “Ele”, São Pedro, o misterioso mensageiro que garantiu a certeza de uma longa e gloriosa vida para o “nascido” no Dia de Natal, o Varzim.
Noventa anos passaram sobre o episódio da taberna - e aí temos, em pleno terceiro milénio, o Varzim Sport Club projectando-se no futuro, vencendo obstáculos e honrando a memória dos homens de boa vontade que o fundaram, num pequeno “milagre” tutelado pela Senhora do Desterro.
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J.M. Lopes de Castro (Presidente do Varzim SC)