quinta-feira, setembro 08, 2005

«Forte como o aço para a barafunda do Marco»

a opinião de Luís Leal*
Imagens: Foto Alberto e Fernando

Depois da crise de pontos no jogo caseiro com o Covilhã onde, não é demais citar, “Nosso Senhor não deu do mar”, o Varzim tenta retemperar da pancada sofrida e já reagiu frente ao Ribeirão, no jogo particular do passado sábado, vencendo por concludentes 3-0.
É certo que se tratava de uma equipa do escalão imediatamente inferior no panorama do futebol português. Mas também é certo que se tratava de um recém-promovido à II Divisão da Federação Portuguesa de Futebol, o que pode muitas vezes proporcionar as chamadas “entradas de leão”. Além disso jogava em casa, apresentando-se aos seus associados com toda a crença de fazer uma boa campanha, aproveitando a paragem que esse mesmo Campeonato lhe facultava, por causa de um acerto de contas do calendário motivado pelas incertezas nos regulamentos das principais provas nacionais.
Seja como for, o Varzim foi a Ribeirão, e mesmo desfalcado de alguns cinco jogadores-base, mandou como quis, principalmente na segunda parte, e construiu um resultado amplo a seu favor, graças à veia goleadora dos seus avançados que ainda se deram ao luxo de desperdiçar soberanas oportunidades de golo. Um bom teste para a equipa poveira, a trabalhar em pleno no período de descanso da Liga de Honra. Uma amostra dada aos seus antigos jogadores Litos e Lemos (e também ao mais “distante” Paulo Vida) de que este Varzim tem um certo valor colectivo capaz de fazer umas coisas esta temporada. Como foi reconhecido pelo treinador do Ribeirão, o antigo internacional Dito, no final do jogo.
«No Marco, o Varzim tem necessidade de marcar presença e pontos para esquecer o desaire anterior e pensar no futuro de cabeça erguida»
Não era verdadeiramente a vitória que interessava ao Varzim. Era sim, dar a melhor consistência à equipa para a dura luta que terá de travar no próximo domingo no Marco de Canaveses... uma terra que, para além de certas confusões políticas, mais acentuadamente nos últimos dias com o mudar de camisola dos seus maiorais, possui uma equipa de futebol tradicionalmente valorosa que não vira a cara à luta.
No Marco, o Varzim tem necessidade de marcar presença e pontos, para esquecer o desaire anterior e pensar no futuro de cabeça erguida.
Vamos lá ver o que vai sair na rifa aos varzinistas lá para os lados onde corre o Rio Tâmega a caminho do Douro…


«Mendonça foi considerado o homem do jogo. Mas quem leu a imprensa portuguesa só viu elogios a Mantorras, que é do Benfica. (...) A sina de quem é mais pobre!»

E já que se fala nos anseios do Varzim, fica bem fazer uma colagem aos anseios da Selecção de Angola. Não venham para aí alegar que não diz a letra com a careta. Diz e diz bem. Porque é varzinista a grande vedeta dessa selecção, como também é angolana para fazer parte dela. É um jovem de 22 anos que, praticamente, se fez jogador no Varzim, quando um dia, pela mão do actual presidente do clube, veio de Luanda para a Póvoa. Um imberbe de 17 anos de nome Mendonça. Sim, é esse Mendonça que fez furor no triunfo de Angola sobre o Gabão, por 3-0, e que colocou a Selecção angolana às portas do Mundial da Alemanha, e, para já, com direito a participar na Taça Africana das Nações.
Os jornais de Luanda, principalmente o “Notícias de Angola”, põem o Mendonça nos píncaros da lua, considerando-o “o melhor jogador em campo”, dizendo que se “destacou no conjunto angolano”. E, acima de tudo, revela que foi o Mendonça o autor do primeiro golo ao rematar uma bola que embatera num adversário; que esteve nos passes mortais para Mantorras fazer os 2-0 e Zé Kalanga que fechou a conta em 3-0.
Reparem nesta apreciação do jornalista do “Notícias de Angola”: “Reintegrado na filosofia de jogo de Oliveira Gonçalves, o médio ofensivo do Varzim de Portugal revelou eficácia em todo o terreno. Teve nas acções defensivas a mesma entrega demonstra no ataque”. Pois é, Mendonça foi considerado “o homem do jogo”.
Mas quem leu a imprensa portuguesa da especialidade, só viu elogios a Mantorras, que é do Benfica. Quanto à exibição de Mendonça, passou como gato sobre brasas, inclusive tirando-lhe o direito de ser o autor do primeiro golo.
Aqui é que vem ao de cima a força do poder. Mantorras é a grande vedeta benfiquista que um dia foi “secado” por Alexandre, na Póvoa, para desespero das gentes da Luz que apelavam a todos os Santos da Corte Celestial que deixassem jogar o Mantorras.
E o Mendonça, é jogador do Varzim que milita na Liga de Honra, sem direito a grandes tribunas jornalísticas. A sina de quem é mais pobre!...
Mas não sejamos injustos: da Selecção de Angola também faz parte outro jogador do Varzim, o médio Figueiredo que no jogo com o Gabão actuou durante 64 minutos para dar lugar a quem já perto do final viria a marcar o golo da confirmação da vitória angolana. Figueiredo, ao andar por outros clubes portugueses e só ingressando esta temporada no Varzim, não tem tão forte laços de amizade com os varzinistas como Mendonça, embora também seja digno da admiração das gentes poveiras por estar a servir o seu clube.
Resta dizer que estes dois jogadores fizeram deslocar-se ao Estádio do Varzim, nesta quinta-feira, a consulesa de Angola no Porto e o assessor da Federação Angolana de Futebol, que se quiseram certificar das condições de trabalho que estes jogadores têm no Varzim, agora com o Mundial à vista. O que se enquadra bem, numa altura em que o clube poveiro, desde há anos com boas relações com o futebol de Angola, celebrou recentemente um protocolo com o Progresso de Sambizanga, o clube de onde um dia vieram o Vata e o Lufemba.
Lembram-se? O tal Vata da “mão de Deus” a dar um título ao Benfica. Que ficou para a história…


*Jornalista do Comércio da Póvoa e director do jornal «O Varzim» escreve habitualmente neste espaço às quintas-feiras

Sem comentários: