quinta-feira, setembro 01, 2005

«Varzim esbarra contra muro humano»

a opinião de Luís Leal*
Imagens: Foto Alberto e Fernando

Para quem ainda duvide que a Liga de Honra não é um mundo de incertezas e uma montanha de dificuldades, que atente nestes pequenos e simples exemplos: até à 2.ª jornada, há apenas duas equipas que ainda não pontuaram e uma delas tem um jogo em atraso. E apenas uma equipa somou vitórias nos dois jogos disputados, o Covilhã, curiosamente um dos três que ascenderam a este Campeonato. Outro dos promovidos, o estreante Vizela, está em 2.º lugar com um empate e uma vitória, portanto ainda sem o sabor amargo da derrota.
Podem dizer que “o primeiro milho é dos pardais”, ou que “a procissão ainda vai no adro”, ou outras coisas que tais. Mas também é certo que “candeia que vai à frente ilumina duas vezes” e neste momento o clube mais iluminado é o Sporting da Covilhã. Tal e qual como dois e dois serem quatro, ou, neste caso, três e três serem seis que são o máximo de pontos colhidos nos dois jogos pelos serranos.
Quem viu o jogo na Póvoa percebeu que, para além das culpas que se queiram atribuir à arbitragem... que se mostrou alérgica às grandes penalidades a favor do Varzim, foi também levantado um forte muro para impedir as investidas varzinistas, por vezes perfurado, de lá para cá, ao jeito de ratos para “roerem a paciência” a quem jogava em casa e queria a todo o transe repetir a dose de uma semana antes na Maia.
Foi esse muro, aliado ao sentido perdulário dos rematadores da “casa”, que esteve na base de um fracasso caseiro dos comandados de Horácio Gonçalves, um treinador que “fez das tripas coração” para moldar uma equipa que fosse capaz de tornear as maleitas da primeira parte que deram vida ao adversário para se adiantar no marcador com dois golos de vantagem.
Aquele Varzim da segunda parte, vocacionado para o ataque, nada teve a ver com o que foi surpreendido pelo contra-ataque e matreirice dos homens que vieram das bandas da Serra da Estrela. Foi um Varzim mais raçudo, todo ele impregnado de um poder colectivo e voluntarioso na mira de “virar o bico ao prego”... que teimosamente se manteve favorável ao Covilhã quase até final. Cenário que só se alterou com o “golo de honra” varzinista.
Ficou a lição: primeiro, de que não deve ser permitido dar baldas ao adversário, e muito menos quando ele se apresenta envolvido de todas as cautelas e ardis; segundo – pelo ponto mais válido – de que a equipa a jogar sempre como o fez na segunda parte, não pode temer por “coisas ruins” no Campeonato, antes pelo contrário. Aliás o mesmo já acontecera anteriormente na Maia mas, valha a verdade, com menos afoiteza e mais rendimento.
Para além de uma outra lição que se pode tirar desse jogo: o Campeonato da Liga de Honra vai meter mais fogo do que já metia nos outros anos, onde todas as equipas se medem, praticamente, pela mesma bitola. Tanto podem estar a lutar pelos dois lugares da subida, como aparecerem, de um instante para outro, a esbracejar no naufrágio que vai arrastar seis equipas para o outro mundo do futebol português, fora do profissionalismo.
Mas há também uma outra grande lição a aprender deste Varzim x Covilhã. A massa adepta varzinista soube estar ao lado da equipa, na mira de que o resultado deixasse de ser desfavorável para as suas cores. E como o “milagre” ficou apenas pelas preces e desejos, houve a resignação total de acatar o desaire, mas dando confiança à equipa para o futuro ao tributar-lhe forte ovação com gritos de incitamento, quando os jogadores se encaminhavam, no final, para as cabines. Ao jeito da doutrina de que “há males que trazem bens”.
Olha-se para este filme e, por muito que se puxe a “cassete” para trás, não vem à retina, mesmo dos menos esquecidos, semelhante exemplo de amor clubista.

Para valer? Para prevalecer pelos dias e anos fora? A resposta pode ser dada futuramente pelas duas partes: pela equipa a lutar como o fez na segunda parte do jogo de domingo, e pela massa associativa a compreender que o esforço, mesmo quando inglório, tem tanto ou até mais valor do que quando as coisas correm de feição.
O que é preciso é que todos remem para o mesmo lado, mesmo esquecendo-se de questiúnculas que se podem tornar-se perniciosas para o Clube e para a carreira da equipa que os varzinistas desejam ter um final agradável.
Mas se esse final não for tão saboroso e não colocar a turma poveira onde se deseja, haja a resignação suficiente, logo que se reconheça que foi feito o melhor possível para bem do Varzim.

* Jornalista do Comércio da Póvoa e Director do jornal «O Varzim», escreve habitualmente neste espaço às quintas-feiras

2 comentários:

Costinha disse...

Gosto das palavras deste Sr. Informação que é Luis Leal...
Obrigado por contribuir neste blog, e obrigado por ter nascido VARZINISTA...

ALA-ARRIBA VARZIM
[Tribunal] - Superior Sócios

Ricardo Campos disse...

Esperemos que o Sr.Luís Leal nos continue a brindar com as suas crónicas ou artigos periodicamente neste blog...como compreenderá, é um previlégio nascer-se varzinista!

ALA-ARRIBA VARZIM
[Tribunal] - Superior Sócios