quinta-feira, outubro 06, 2005

«As aves agoirentas já abriram o bico»

a opinião de Luís Leal*
Imagens: Rui Carvalho e Foto Alberto e Fernando

Sem dúvida que os avançados do Varzim andam a precisar de ir à bruxa. Por mais que rematem às balizas contrárias, ou apanham um guarda-redes em tarde de inspiração (talvez reservada para os jogos com os varzinistas), ou então, as balizas vão ao encontro da bola, como que se movessem consoante a trajectória do esférico.
Quem assistiu aos dois mais recentes jogos disputados no Estádio do Varzim e não se deu ao trabalho de contabilizar o número de vezes que a bola embateu na barra ou nos postes das redes adversárias, basta atentar no desabafo do treinador Horácio Gonçalves, depois da eliminação do desconhecido Canedo. Ele próprio contabilizou sete os remates que nesses dois jogos fizeram esbarrar a bola nos ferros redondos das balizas. Muita coisa para tão poucos jogos.
Depois ainda há aqueles remates que os jogadores desferem em situações privilegiadas para fazerem golos, mas dando a entender que têm os pés tortos, pois o alvo é errado, ou por escassos centímetros, parecendo que as balizas se deslocam de propósito para o golo não acontecer, ou então, atiram para muito longe do alvo.
Para além de tudo, o Varzim não tem andado muito bem nos últimos tempos. Perdeu escandalosamente em casa com o Gondomar e logo por 3-0, a dar uma ideia um tanto contraditória daquilo que realmente se passou por sobre o relvado. Que não foi mais do que a felicidade de um rematador que de muito longe fez a bola entrar no ângulo para inaugurar o marcador; e também uma infelicidade de Cícero que, após um pontapé de canto, desviou a bola para a sua própria baliza, fazendo com que o adversário chegasse aos 2-0. E já depois da casa roubada e quando o treinador procurava colocar as trancas na porta que fora aberta com um pouco de negligência táctica, apareceu o terceiro golo num momento de desconcentração defensiva, quando todo o mundo varzinista procurava dar a volta ao resultado, ou seja, em busca de um golo que fosse capaz de abrir a esperança de ser conseguido pelo menos o empate.
Nesse jogo, para além dos erros cometidos também houve falta de sorte no remate, ao contrário do adversário que, praticamente, se mostrou eficaz a cem por cento no pouco que rematou às redes varzinistas.
Depois desse 'dia não', veio o jogo da Taça de Portugal na quarta-feira seguinte, frente a um tal Canedo que mereceu muitas interrogações quanto à sua naturalidade e carreira futebolística. Um clube amador, com os jogadores a “trabalharem de manhã à noite nos seus empregos”, como disse o seu treinador no final do jogo.
Pois quando perante um adversário sem grandes pergaminhos na III Nacional que disputa nos dois últimos anos, se previa que o Varzim até podia apresentar uma “segunda equipa” para ganhar a eliminatória, acabou por suar as estopinhas com a equipa-base (embora desfalcada de Mendonça e Figueiredo, na Selecção de Angola e de Nuno Gomes lesionado). E em vez de uma possível goleada tão a propósito com a diferença de categoria dos Campeonatos que ambas as equipas disputam, foi antes um erguer as mãos aos Céus, temendo que o pior viesse a acontecer. Porque, ou por causa dos postes das balizas à guarda de um tal Carlos, ou por desacerto no remate dos varzinistas, ou porque, por vezes, as bênçãos benditas impediam que a bola ultrapassasse a linha de baliza, o certo é que uma equipa desconhecida, ao ir mais longe do que as próprias forças o permitiam, levou o Varzim ao prolongamento e por pouco que era necessário recorrer à marcação de pontapés da marca de grande penalidade para ser encontrado o vencedor.

Valeu a inspiração do jovem Pedrinho (ao lado de Mendonça na foto) que tinha saltado do banco para o relvado na meia hora final do tempo regulamentar, ao marcar os dois golos que valeram o apuramento e dando lições de eficácia a todos os outros jogadores que são mais velhos do que ele, de como se aproveitam as oportunidades de golo que surgem. Um Pedrinho que nesse dia foi um “Pedrão”, a quem o Varzim ficou a dever a passagem à 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, nessa altura já com a presença das equipas da Liga.
Mas não haja dúvidas que estes últimos resultados do Varzim e as exibições menos valiosas da equipa tiveram um certo condão: pelo menos certas aves agoirentas que andavam de bico calado quando as coisas corriam melhores, já tiveram oportunidade para cantarem de galo e criticarem a seu bel-prazer a acção da equipa, dos jogadores e, em tom mais cáustico, o treinador.
Assim, sim, já puderam dar nas vistas das críticas, pois sempre dá mais ares de grandes mestres quando se critica severamente, do que quando se tem de dizer bem, para muitos considerado de bajulice.
Não há nada como esperar pelo tempo para se saber ao certo para que lado estão virados certos entendidos, com as suas críticas públicas e em ambiente restrito.
Vamos a ver se as coisas acertam melhor dentro do Varzim, porque sabe-se que o valor da equipa não tem nada a ver com as exibições frente ao Gondomar (perdendo), quer no jogo com o Canedo (vencendo mas de credo na boca).
Porque o que foi demonstrado em jogos anteriores, que merecia pancadinhas nas costas por parte dos tais críticos, parece que já esqueceu, que faz parte de um passado longínquo quando, realmente, ainda foi praticamente há meia dúzia de semanas.
*Jornalista do Comércio da Póvoa e director do jornal «O Varzim» escreve habitualmente neste espaço às quintas feiras

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