Prof. Fernandes sobre o livro dos 90 anos do Varzim: «Não é um livro dos 'doutores'... é de quem construiu o Varzim»

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Nome: Eduardo Fernandes

Data de Nascimento: 1935

Naturalidade: Fafe (vive na Póvoa há 54 anos)

Currículo: jogador do Varzim durante cinco épocas (campeão regional em 1955/56); dirigente durante três épocas; chefe do departamento de futebol; fundador do jornal «O Varzim»

Frase: «Vivi muitas alegrias e tristezas nesta casa... e hei de sempre lutar pelo Varzim»

Preto No Branco: Comecemos pelas alegrias. Sabemos que está a terminar um livro de comemoração dos 90 anos do Varzim Sport Clube. Fale-nos um pouco disso.

Prof. Fernandes: Antes de mais, deixe-me dizer-lhe que são precisos apoios. Um livro não se faz do nada. Se conseguir os apoios que desejo, será editado e posto à venda em Março de 2006. Se não os conseguir tenho um órgão de comunicação social poveiro, que se mostrou interessado em publicá-lo em fascículos.
O livro é dedicado, e só assim podia ser, na minha opinião, às pessoas que construíram o Varzim. Não é um livro dos 'doutores' que por lá passaram. Infelizmente há quem vá ficar chateado com isto.

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PB: Quais os principais assuntos que trata nesse livro?

PF: Trato de tudo um pouco. Desde a fundação aos dias de hoje. Só para ficar com um exemplo falo dos seis campos de futebol por onde o clube já passou; de todos os treinadores; figuras gratas como o Quim Pescador; da inauguração da luz artificial; de gente que deixou marca como o António Vasconcelos ou o Neca do Varzim; tenho uma reprodução de uma obrigação no valor de 100$00 para aquisição dos terrenos do actual estádio; todos os presidentes; o recibo da Casa Confiança do pagamento para o estandarte do Varzim. Reúno também uma série de imagens e fotografias antigas para ilustração. Tenho, igualmente, algumas secções dedicadas ao “amor varzinista”, às noites de festa, à solidariedade, entre outras.

PB: Existe uma outra questão que é saber se o Varzim foi fundado a 25 de Dezembro ou a 25 de Março de 1915. Para qual se inclina?

PF: Para Dezembro. Acho que foi esse o mês da fundação.

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O Varzim começa a ser pequeno perante uma máfia instalada no futebol

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PB: Como vê a actual situação do Varzim?

PF: Para analisarmos a situação actual temos de diferenciar duas vertentes: a desportiva e a financeira.
A nível desportivo esperava um pouco melhor. É preciso que a bola comece a entrar mais vezes, mas que os árbitros também roubem menos. O Varzim começa a ser pequeno, mas com um grande historial.
Se a sorte mudasse, se a massa associativa ajudasse não corríamos o risco de descer de divisão. Podíamos até subir.

PB: Acha que o Varzim está preparado para subir?

PF: Com este plantel, se subíssemos, podíamos ganhar mais dinheiro na Liga principal. Mesmo que descêssemos na época seguinte, se não entrássemos em loucuras, era sempre positivo. Subir para a permanência já é mais difícil. Somos muito pequenos.

PB: Já se referiu, por duas vezes, ao facto do Varzim ser pequeno. A que se refere em concreto?

PF: Pequeno perante uma máfia que está instalada no futebol. E isso leva-me ao outro aspecto: o financeiro.
Todos sabemos que o Varzim está mal, mas ninguém reconhece as culpas. É fácil deitar as culpas para os outros, mas a verdade é que cada varzinista tem de ter a ombridade de dizer que é culpado. E eu não fujo à regra: também sou culpado.

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Todos os varzinistas são culpados pela crise que se vive no clube.
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PB: Acha então que a massa associativa é também responsável pelo estado de coisas a que chegou o Varzim?

PF: Claro. Repare só nisto: o Varzim fez a sua apresentação oficial desta época no Pavilhão Municipal, com entrada grátis, e só conseguimos encher dois terços. O Leixões fez a sua apresentação no estádio, com cada entrada a custar cinco euros, e estavam lá cerca de 5000 pessoas.
O Varzim tem cerca de 2500 sócios pagantes. Se 10% dos poveiros fossem associados os problemas eram muito mais facilmente resolvidos. A isto eu chamo ser pequenos: de mentalidade. Não há um retorno do investimento que o Varzim fez, e faz, na comunidade. O clube dá muito à Póvoa, mas a terra dá-lhe muito pouco.
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Vivo o Varzim dia e noite. Não acredito na frase: “Se acabar, acabou!”

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PB: Precisamente para resolver esta crise financeira a actual direcção prepara uma série de medidas, entre as quais a cedência dos actuais terrenos mediante contrapartidas, nomeadamente um novo estádio. É a favor de tal medida?

PF: No último Conselho Varzinista expliquei muito bem a minha posição em relação a isso. Se alguém, na Assembleia Geral, agendada para o dia 8 apresentar outra proposta, eu voto contra a mudança do estádio. Se tal não acontecer, é com o coração pesado que votarei a favor, pois prefiro ver o Varzim sair do actual estádio do que simplesmente acabar.
Não sou é como certos senhores cá da terra que me respondem muito simplesmente: “Se acabar, acabou!”. Ao contrário de muita gente eu vivo o Varzim dia e noite.

PB: Para o negócio correr da melhor maneira possível, convém que o índice de construção atribuído aos terrenos seja o maior. E se tal não acontecer?

PF: Não sou uma pessoa de políticas, mas acredito nos homens e o Dr. Macedo Vieira afirmou, e eu acredito, que enquanto for Presidente da Câmara, jamais o Varzim será prejudicado.
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O grupo que fizer a melhor oferta deve ser o escolhido
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PB: Para este negócio entraram a concurso três consórcios. Um espanhol avaliou os actuais terrenos em 29 milhões de euros, o grupo MonteAdriano em cerca de 22 milhões. Defende a opção pela melhor oferta ou pelo grupo que patrocina o clube há já largos anos?

PF: O Varzim deve optar pela melhor. Não pode haver lugar a amizades, os superiores interesses do Varzim são sempre mais importantes.